sexta-feira, 21 de março de 2008

Vexila Regis - António Sardinha


Como é Sexta-feira da Paixão, resolvi postar um inspirado poema de António Sardinha, principal líder e doutrinador do Integralismo Lusitano, que trata deste dia e se encontra na obra ititulada "Na corte da saudade".


Vexila Regis
Por António Sardinha

Alors commence la solenelle procession des siècles chrétiens s'acheminent à la suite de la croix dans la direction de l'avenir.

Godefroid Kurth

O órgão geme. É Sexta-feira Santa
Adoração da Cruz na Catedral.
E sobe o coro numa voz que espanta,
- voz de trágédia e cerração mortal!

Só um madeiro agreste se levanta,
abrindo os braços negros por igual.
Os padres cantam. E em tristeza tanta
recanta o incenso a mística espiral.

Soluça o órgão... Com a cruz erguida,
por todo o templo a fé que nos alenta
entoa um hino à Árvore-da-Vida.

E eu, pobre criatura transitória,
enquanto a procissão perpassa lenta,
julgo assistir ao desfilar da História!

quinta-feira, 20 de março de 2008

Canção das Águias - Plínio Salgado


Embora tenha se destacado muito mais como prosador, - escrevendo obras-primas como a "Vida de Jesus" que é, no dizer do Pe. Leonel Franca, "a jóia de uma literatura" e os romances "O estrangeiro" (primeiro romance social em prosa modernista de nossa Literatura e também a maior realização romanesca da geração do Modernismo), "O esperado", "O cavaleiro de Itararé" e "Voz do Oeste" (que constituiu o grito que, no dizer de Juscelino Kubitschek, preparou a construção de Brasília) e também como pensador, legando à posteridade obras do quilate de "Psicologia da Revolução" , de "O conceito cristão da Democracia", de "A Aliança do Sim e do Não" e de "Espírito da burguesia" - Plínio Salgado foi também poeta, escrevendo alguns poemas valiosos, como os "Poemas do século tenebroso" (assinados com o pseudônimo de Ezequiel) e o soneto que lerão a seguir, publicado em seu primeiro livro, "Tabor", de 1919.

Eleva-te no azul! Corta-o serena e forte...
Rasga o seio à amplidão! Embriaga-te no arrojo
do vôo triunfal! Deixa que estruja o norte,
que o mar rebente em fúria e encarcere no bojo
as potências revéis e as ciladas da morte!
Atira-te no espaço!

E, se um dia, singrando os céus, vieres de rojo,
rotas as asas de aço, banhada em sangue, o olhar
em febre, a alma descrente, não te abata o cansaço!
De oceano atro e fatal não te sorva a torrente...
Grita, forceja, anseia e combate e disputa...
morre a lutar, morre na luta, mas, antes de morrer, tenta ainda voar!

quarta-feira, 5 de março de 2008

Salve Pátria! - Câmara Cascudo


Segue bela poesia patriótica de Luís da Câmara Cascudo, maior folclorista do Brasil (embora não se julgasse sequer um folclorista, considerando Gustavo Barroso - seu grande amigo e companheiro de militância na Ação Integralista Brasileira - o "mestre incontestável do folclore brasileiro"), além de um dos mais brilhantes poetas, jornalistas, etnólogos, sociólogos, historiadores e ensaístas jamais nascidos neste País.


Salve Pátria !

Mãe de heroísmos, vida, força, esplendor, esperança nossa, salve ! A vós bradamos, os humildes soldados de vossa grandeza, e a vós suspiramos, gemendo e sonhando nesta hora de combate. Ela, pois, advogada do nosso passado, a nós volvei, perpetuamente, os exemplos dos nossos mortos e depois da batalha, conservai-nos puros ante vossa presença augusta.

Bendito seja o fruto da vossa história. Oh nobre ! Oh altiva ! Oh sempre gloriosa Pátria, mantem-nos fiéis ao espírito e à Terra do Brasil, para que possamos viver em vosso serviço e morrer defendendo as cores sagradas de vossa BANDEIRA IMORTAL !

(Publicada na Revista "Anauê" em agosto de 1935)

sábado, 1 de março de 2008

A ronda da Pátria - Gerardo Mello Mourão


Segue um dos mais magníficos poemas escritos por Gerardo Mello Mourão, reconhecido como o maior poeta do Brasil pelo insuspeito Carlos Drummond de Andrade. O poema foi publicado na revista "Anauê!" e transcrito no volume VII da Enciclopédia do Integralismo, organizada por Gumercindo Dorea (aliás editor e grande amigo de Gerardo) e publicada por sua editora, a GRD, em sociedade com a Livraria Clássica Brasileira, de Plínio Salgado.


A Ronda da Pátria

Gerardo Mello Mourão


Sou o Índio Americano, - o Guaycuru selvagem,
O Goitacaz fogoso.
Sou Y-Juca-Pyrama, - o Aimoré que não morre
Sempre valente e sempre belicoso!

Convoquei cinco mil dos meus Tamoios,
Defendi minha Terra.
Ou Tupi, ou Tapuia, - eu sou Ararigboia
Sei vibrar o boré nas explosões da guerra!

Outrora me chamaram Anchieta
E eu preguei a palavra do Senhor.
Fui santo, fui apóstolo,
E derramei a Crença, a Esperança, o Amor!

Eu andei nas bandeiras do sertão
E palmo a palmo conquistei a Terra!
E lutei... e venci... levei a minha Crença
Desde o altar de campina aos coliseus da serra!

Derramei o meu sangue em Guararapes
E chamei-me Poti.
Tinha o sol tropical a incentivar-me à luta,
Tinha o calor da Terra a aquecer-me, - e venci

Fui herói nas Tabocas... lutei muito...
Eu sou Henrique Dias!...
Vai procurar por mim nos campos do Avaí
Que o meu nome é Caxias!

Chamo-me Osório em Lomas Valentinas.
E o meu nome é Sampaio em Tuiuti!
- Ah! se visses a Pátria levantada e viva
E heróica como eu vi!

Se estivesses comigo em Curuzu...
Se me visses em Peribebuí...
Em Estero Belaco, Estero Rojas,
San Solano, Augustura ou Caraguataí...

Se tivesses ouvido a música divina,
Que eu cantei pela boca do canhão
Nas águas revoltosas de Riachuelo,
Em Paissandu, então!...

Ah!... lá eu fui Tamandaré,
O espírito das águas revoltado!
Fui Barroso e deixei um pouco do meu sangue
Entre as veias da Terra misturado!...

Guerra do Paraguai... eu a ganhei!...
Eu comandei a todas as batalhas...
E tenho o corpo cheio de feridas...
E tenho o peito cheio de medalhas...

Fui músico depois... chamei-me Carlos Gomes
Cantei o Guarani, - a voz da Raça;
Repara: - ainda o som deste poema
Clangora e ruge quando o vento passa...

Meu nome é Castro Alves... fui Poeta...
Há nos meus versos o fragor das lutas...
O baque colossal de Paulo Afonso
E o cheiro americano das florestas brutas.

Dedilhei no violão do sertanejo rude
O fogo das manhãs e as noites de luar...
Fui Juvenal Galeno e o Brasil suspirou
Na minha inspiração de bardo popular!

Chamei-me Floriano e governei meu povo.
Fui Plácido de Castro e fiz-me general,
E conquistei o Acre,
"Transformando em província, o brio nacional!"

Sou o sábio que pensa... o filósofo eterno,
Vôo da Terra em busca do Infinito.
Sonho revoluções... sou Jackson de Figueiredo
E sou Farias Brito!

Ah! eu sempre existi! Fui Rosica em Bauru
E, como Cristo dei meu sangue à minha Raça!
Fui Jayme Guimarães, e fui Spinelli
Nos combates da praça!

Chamei-me Schroeder e tombei no pampa.
Fui Alberto Secchim.
Quis a auréola do mártir e de herói
Em Cachoeiro do Itapemirim...

Hoje visto a Camisa-Verde e sou Plínio Salgado!
Sempre existi e sempre existirei.
Sou o gênio da Pátria, - a eterna Mocidade,
- E nunca morrerei!